Poema SE



TRANSCREVO O BELO POEMA "SE", DE HERMÓGENES DE ANDRADE.
ANTES, ALGUMAS INFORMAÇÕES SOBRE O AUTOR:
José Hermógenes de Andrade Filho, mais conhecido como Prof. Hermógenes, é escritor, professor e divulgador brasileiro de hatha ioga.
Nascido em 9 de março de 1921, em Natal, Rio Grande do Norte, José Hermógenes de Andrade Filho é considerado o pioneiro em medicina holística no Brasil, com mais de 42 anos de prática e ensino de yoga. Pai de 2 filhas, 6 netos e 4 bisnetos. Filósofo, poeta, escritor e terapeuta, o professor Hermógenes costuma dizer que se sente mais jovem hoje, aos 85 anos, do que se sentia aos 35. Doutor em yogaterapia, título concedido pelo World Development Parliament, da Índia, é o criador do treinamento anti-stress.



Se
                                                 (Hermógenes de Andrade)

Se, ao final desta existência,
Alguma ansiedade me restar
E conseguir me perturbar;
Se eu me debater aflito
No conflito, na discórdia...


Se ainda ocultar verdades para ocultar-me,
Para ofuscar-me com fantasias por mim criadas...
Se restar abatimento e revolta
Pelo que não consegui
Possuir, fazer, dizer e mesmo ser...

Se eu retiver um pouco mais
Do pouco que é necessário
E persistir indiferente ao grande pranto do mundo...
Se algum ressentimento,
Algum ferimento impedir-me do imenso alívio
Que é o irrestritamente perdoar,
E, mais ainda,
se ainda não souber sinceramente orar
Por quem me agrediu e injustiçou...
Se continuar a mediocremente
Denunciar o cisco no olho do outro
Sem conseguir vencer a treva e a trave
Em meu próprio...

Se seguir protestando
Reclamando, contestando,
Exigindo que o mundo mude
Sem qualquer esforço para mudar eu...

Se, indigente da incondicional alegria interior,
Em queixas, ais e lamurias,
Persistir e buscar consolo, conforto, simpatia
Para a minha ainda imperiosa angústia...
Se, ainda incapaz
para a beatitude das almas santas,
precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende...

Se insistir ainda que o mundo silencie
Para que possa embeber-me de silêncio,
Sem saber realizá-lo em mim...
Se minha fortaleza e segurança
São ainda construídas com os materiais
Grosseiros e frágeis
Que o mundo empresta,
E eu neles ainda acredito...

Se, imprudente e cegamente,
Continuar desejando
Adquirir, multiplicar e reter
Valores, coisas, pessoas, posições, ideologias,
Na ânsia de ser feliz...
Se, ainda presa do grande embuste,
Insistir e persistir iludido
Com a importância que me dou...
Se, ao fim de meus dias,
Continuar sem escutar, sem entender, sem atender,
Sem realizar o Cristo, que,
Dentro de mim, eu Sou,

Terei me perdido na multidão abortada
Dos perdulários dos divinos talentos,
Os talentos que a Vida a todos confia,
E serei um fraco a mais,
Um traidor da própria vida,
Da Vida que investe em mim,
Que de mim espera
E que se vê frustrada
Diante de meu fim.

Se tudo isto acontecer
Terei parasitado a Vida
E inutilmente ocupado
O tempo e o espaço de Deus.
Terei meramente sido vencido
Pelo fim, sem ter atingido a Meta.


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