Qualidade da Educação

Nadja Neves Abdo

O modelo de Educação tradicional vem sendo duramente criticado desde a abertura política, no final dos anos 80. No entanto, a educação praticada nos tempos atuais dessa gloriosa abertura não é de boa qualidade e merece várias contestações.
À época da escola tradicional - tomando por base os anos 50, 60, 70 e 80 - um aluno oriundo do ensino público de Belo Horizonte tinha mais chance de passar no vestibular da UFMG, nos exames do CEFET e COLTEC do que os candidatos das escolas particulares. Podemos citar como exemplo de excelência educacional o Colégio Estadual, o Aplicação, o Instituto de Educação, o Colégio Marconi e outros.
Hoje, os estudantes de escolas públicas adquirem um conhecimento tão precário, que nem se atrevem a prestar um vestibular, já sabem, de antemão, que não terão chance. Então, o que fazem? Eles vão cedo para o mercado de trabalho, com as poucas condições que têm, tentar empregos que lhes paguem baixos salários, e deixam os bancos da UFMG para os bem aventurados, que estudaram no ensino privado, tiveram curso extra de inglês e cursinhos preparatórios.
Com relação a esses bem aventurados, hoje não são como outrora, somente os jovens de famílias abastadas; são também estudantes da classe média, cujos pais ou responsáveis espremem seus orçamentos para oferecer uma escola particular, por saberem da precariedade do ensino público.
De quem é a culpa, ou melhor, quais são as razões desse estado de coisas?
Aqui estão apenas algumas causas mais evidentes e incontestáveis:
- com a "democratização do ensino", oferecendo escola para todos, o sistema inclui no mesmo espaço portadores de diferentes deficiências e distúrbios, nivelando o ensino de modo a que todos tenham alcance. Não sou contra a inclusão, mas sou contra a maneira como é feita, prejudicando o alunado de potencial regular. A inclusão, como tem acontecido nas escolas públicas, atende o aluno com dificuldade de aprendizagem e esquece dos que precisam avançar em ritmo mais aprimorado e acelerado;
"Deficiência mental : é o funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como:
- comunicação;
- cuidado pessoal;
- habilidades sociais;
- utilização dos recursos da comunidade;
- saúde e segurança;
- habilidades acadêmicas;
- lazer; e
- trabalho.
(art. 5°, § 1°, alínea ‘d’, do Decreto 5.296/04). "

- em seguida, como fator determinante, vem a insatisfação do docente, que está cada vez mais sobrecarregado com turmas heterogêneas, abarcando um leque amplo de dificuldades de aprendizagem, que sua formação acadêmica não lhe forneceu elementos para atender. Para tanta complexidade, são necessários profissionais de áreas específicas, como psicólogos, psicopedagogos, fisioterapeutas, assistentes sociais e, até mesmo, psiquiatras. Ainda pesam para os educadores a insatisfação salarial e falta de reconhecimento profissional ;
- os profissionais da Educação pública colocam seus filhos em escola particulares, com raras exceções, fato que demonstra claramente o descrédito na qualidade do ensino que eles próprios ministram;
- a política paternalista e assistecialista voltada para os alunos, que vem sendo implementada com o intuito de garantir votos dos menos esclarecidos, está cada vez mais abrangente e fortalecida, uma vez que os pais se acomodam a esse modelo provedor e não questionam a qualidade. Quanto menos a escola exigir, melhor;
- a desestruturação das famílias, especialmente as de baixa renda, também concorre para que se busquem alternativas mais simples, econômicas e menos exigentes do ponto de vista pedagógico. Os pais não têm tempo para os filhos, ficam o dia todo fora de casa trabalhando, chegam cansados e insatisfeitos e não querem saber de problemas.
Essas e outras são as causas da decadência do ensino público, apontando para uma grande dificuldade de retomada da qualidade.

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