Morte e sublimitude

Recomendação cinematográfica: aos amigos da ARTE

Não resisto recomendar o filme japonês "A Partida", disponível em locadoras em DVD, (a mim indicado por Denise Gomes, Mestra em Literaturas de língua portuguesa pela PUC). É uma criação emocionante (e não triste), que tem a ver com as vidas que incluem perdas de pessoas. Na obra, a questão do preparo do corpo e, alguns casos, da cremação, aparecem como portal. Os japoneses nos dão esta película mostrando a importância da humildade perante o inexplicável, a urgência do respeito pelo que não dominamos totalmente e o ritual da despedida para crescimento interior. Surge a bela "pedra-carta" (que fala pelo silêncio do tato) e da música do violoncelo que abre as portas da alma seja nos campos, seja nas cidades. Lembrei-me de Ariadne Brandão, que me deu uma pedra verde nas escadarias do Instituto de Educação, nos idos de 1964. A pedra da inocência perante um pátio vazio.

Pobres seres humanos, em sua busca da aceitação daquilo que não podem evitar! Uma de minhas avós, antes de ser "levada", foi colocada no chão, sob olhares paralisados, pelos funcionários embrutecidos da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte - imagem que sempre me incomodará. Este "A Partida" mostra um outra forma de dizer adeus, mais sensata, lenta e ritualizada lição contida como o próprio sublime Oriente, ainda que devassado pela Globalização. O trabalho japonês faz da despedida, através de uma prática profissional, um encontro com verdades profundas, que nem precisam ser verbalizadas. As interpretações são soberbas, a fotografia, uma sucessão de pinturas.

Rogério Zola Santiago - 2010

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