VERDADE RELATIVA

Nadja Neves Abdo

Os filmes hollywoodianos começam a dar sinais de rendição, mostrando que a ‘verdade’ ocidental não é a única. Os roteiristas americanos decidiram mostrar – mesmo que superficialmente – o outro lado da moeda do conflito ocidente x oriente, dando voz aos personagens árabes em seu contexto social, cultural e religioso. Uma espécie de mea-culpa moderada, motivada por um medo crescente da força islâmica, que tem resistido heroicamente ao poderio bélico dos EUA/Israel.
Entretanto, as películas produzidas em Hollywood ainda se empenham em mostrar o lado bonzinho e democrático do norte-americano, contrastando com a rigidez e autoritarismo dos povos orientais. Ora nas entrelinhas, ora de forma mais evidente, o contraponto é sempre registrado, especialmente quando o assunto é 'terrorismo'(como eles chamam as reações adversas), guerra do Iraque, armas nucleares, facções islâmicas etc. Os povos árabes sempre são mostrados de forma caricata e/ou marginalizada, enquanto os ocidentais são os modelos de moral e eternos benfeitores.
A consciência humanística do homem contemporâneo vem, há muito, sendo moldada pelos padrões norte-americanos, que determinam como bom o que é ocidental e mal o que é oriental. A construção dessa verdade relativa aconteceu de forma gradativa e gradual, com a desfaçatez própria da mídia de massa, de tal forma que hoje passou a ser verdade oficial, proibida por lei de ser questionada à luz da razão e da ciência.
Ao assistir a filmes do gênero – e ao ler livros também – devemos lançar um olhar muito cuidadoso e perspicaz, tendo em vista que a hegemonia norte-americana é massacrante e sua ideologia é repassada usando técnicas de persuasão bastante estudadas. Falando grosso modo: eles vencem pelo repetição. O roteirista/autor é sempre muito ardiloso ao tentar passar a sua idéia como sendo a única verdadeira, não concebendo um outro olhar, de um outro prisma. Não é sem motivo que os EUA são considerados os donos da mídia internacional, formadora de opinião.
Mas essa via de mão única começa a sofrer embates e dá sinais de exaustão. Uma visão diferenciada começa a aparecer nas telas(inclusive deles mesmos!!!), a exemplo do que aconteceu com os negros, antes marginalizados, agora mocinhos.
Nessa linha de raciocínio, recomendo o filme REDE DE MENTIRAS (BODY OF LIES), excelente produção da Warner Bros, com ótimo desempenho de Leonardo Di Caprio e elenco muito bem escolhido, além de fotografia fantástica, que reforça a legitimidade do tema. Confiram!

Comentários

  1. Gostei imensamente do tema abordado.Voce Nadja revela de forma clara um novo tipo estratégico (miséria)colocada pela mídia dominante. O BUDGET(orçamento por objetivos) está impostado.O terreno está minado.ELES No desespero usam de estratégia de bons moços. Estamos alerta.A nova
    Geração deve estar ATENTA !!!.
    Ernest.

    ResponderExcluir
  2. Ainda há muito o que evoluir. Há irracionalidades e intolerâncias dos dois lados. São duas visões diferentes com o mesmo propósito. De um lado, monogamia e de outro poligamia, mulheres no comando X mulheres que não tem direito a voto, suposta democracia e liberadade de expressão X repressão e autoritarismo como vimos no Iraque e como vemos na Arábia Saudita. A única coisa em que estes dois mundos tem em comum é a cegueira religiosa, que há muito carece de conhecimento.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Lembranças...

POEMA DE ELIZABETH BISHOP