QUESTIONANDO A DITA INCLUSÃO ESCOLAR
Nadja Neves Abdo

O modelo de inclusão escolar que aí está - e que parece muito altruísta aos mais crédulos e também aos educadores idealistas - tem caráter claramente político e cunho pouco pedagógico. É muito mais uma estratégia econômica governamental que um movimento sócio-educacional, cujo sujeito em questão deveria ser a pessoa com necessidades especiais em condições também especiais, para seu possível e legítimo desenvolvimento. Mas não é essa a realidade: o que acontece é um faz-de-conta, que fica bem barato para os cofres públicos. Somente em casos específicos de deficiência física acentuada, destina-se um acompanhante para o aluno, como se o único problema fosse a dificuldade motora. Simples assim!
Do ponto de vista humanístico, fica difícil questionar uma causa tão nobre como a dita inclusão escolar. Àqueles que se atrevem a discordar dessa política de inserção, cabe o rótulo de intolerantes e preconceituosos. Mas não seriam preconceituosos aqueles que querem ajustar o portador de necessidades especiais aos modelos convencionais? Não seriam inconsequentes aqueles que desconsideram a importância de disponibilizar profissionais qualificados para lidar com essas demandas? Não seriam no mínimo simplistas aqueles que não exigem um currículo especial para pessoas especiais, com espaço físico e materialidade adequados?
Há que se considerar, em termos de políticas públicas, que é muito mais interessante e barato, do ponto de vista capitalista, inserir todos no mesmo espaço, na mesma programação curricular, no mesmo tempo escolar, no mesmo livro didático, com a mesma professora, com os mesmos funcionários... E o mais conveniente: sem contratação de psicólogos, orientadores educacionais, agentes de saúde, professores de Educação Física para atividades apropriadas, fisioterapeutas e outros que se fizerem indispensáveis para o completo atendimento das necessidades diagnosticadas.
Mais uma vez, ao longo de toda a história da Educação, os profissionais da área reproduzem o sistema dominante, na medida em que não questionam as intenções subjacentes ao processo de inclusão escolar e se deixam enredar pela comoção que o tema provoca. Os discursos que promovem a inclusão são carregados de uma ideologia, cujo intuito é angariar adeptos e defensores públicos, pois o ser humano tem necessidade de parecer humanista diante da sociedade e de pensar "ah, como eu sou bom!"
A verdadeira inclusão ocorre quando existe valorização do ser diferente. Movimentos que conduzem à importância pessoal e social são, do ponto de vista pedagógico, o verdadeiro caminho da inclusão, porque pressupõem o respeito e o atendimento às especificidades de cada indivíduo. Nivelar as pessoas e mantê-las sob o mesmo molde educacional só é bom para o controle governamental sobre a economia e a livre iniciativa. Cabe aos cidadãos conscientes e libertos, em especial aos educadores, questionar a validade e os resultados que cada teoria pedagógica carrega; se não estiver pressuposta a valorização do educando e sua formação compatível com seu eu, em detrimento de quaisquer interesses econômicos, não deverá ser reproduzida.
Em resumo: o modelo de escola que conhecemos não tem o aparato para receber alunos com necessidades múltiplas. Toda inclusão de tal porte, feita nesses espaços, é ineficiente pelo seu caráter de improviso, por melhor que seja o desejo de criar condições. E mais: com o agravante de desestruturar o trabalho regular. A escola inclusiva pressupõe investimento em pessoal qualificado e recursos vários para atendimento eficiente.
Demonstrar respeito aos portadores de necessidades especiais significa criar para eles escolas altamente qualificadas para recebê-los e atendê-los em suas demandas. Que fique claro: não uma escola com aspecto de reformatório, sombria e deprimente. Pelo contrário, uma escola prazerosa, com um currículo diferenciado, voltado para o desenvolvimento das potencialidades e das prerrogativas dos alunos, enfim, um lugar de felicidade, de desenvolvimento motor, cognitivo e social. Uma escola que desperte admiração pelo seu caráter de respeito ao ser humano em sua individualidade antes de tudo; que desperte no educador o desejo de usufruir de condições de trabalho legítimas e promova no aluno a vontade de se superar
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Comentários

  1. Sensacional como sempre mamã! Que Deus continue te iluminando com o dom da escrita e permita que vc combata a nossa indelével pratica de não agir quando necessário

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